Meus.

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vida de mochila - I

Tudo comecou quatro horas da tarde duma quinta-feira queeente, quando o onibus deu a partida e eu saí de partida para uma coisa que nao sabia bem como haveria de ser. O que me esperava, se drama, romance, aventura ou comédia, eu nao sabia, sabia sim que queria que fosse, ao menos, exatamente o que eu esperava: tudo isso junto.

Durante as 17 horas de viagem pensei nas circunstancias da partida, em tudo que havia passado, no momento em que comecei a pensar em partir. Nao me deprimi, mas quase. Sorte que tinha minhas músicas e uma paisagem, no mínimo pitoresca, pra me distrair. Adormeci quando a noite veio, despertei quando o sol surgiu. Ainda no onibus, andando, andando. O corpo torto, tentando caber na poltrona. Casinhas comecaram a aparecer na beira da estrada, apartadas umas das outras. Campesinos comecando seu trabalho, lhamas em punho, para a luta de outro dia. Ao fundo enormes montes com polvilhados de neve, ''será que estou chegando?'' e num piscar de olhos - 17 horas depois de 17 horas acabam passando num minuto - cheguei!

''Caraamba que é isso??? As casinhas empilhadas nos morros... Essas mulheres estranhas com seus chapéizinhos minúsculos e saias gigantes... Quanta crianca, credo... Nao, nao quero milho cozido, nem pipoca, nem esse cachorro-quente suspeito, nem um prato de comida sete horas da manha (tudo isso dentro do onibus)... Meu deus, olha só, mas que cidade mais linda''
E foi assim que saudei La Paz!

Minha mochila tinha ¿apenas? 10kg, mas mais parecia 230. Saí a busca do rosto conhecido que deveria estar me esperando. Andei um pouco, o vi. Com a mesma camiseta, jaqueta e calca que o conheci - será que é verdade que europeu nao é tao higienico quanto a gente? ai, longas tres semanas, se sim - estava Adam, o ingles magrelo e de cabelo revoltado que conheci em Santa Cruz sem querer, que ia ficar por apenas um dia mais, mas que acabou ficando tres semanas. Conheceu a dona dum bar - ao qual eu ia todo fim de semana - e trocou sua mao de obra por um cantinho pra dormir. Assim, tornou-se um amigo.

''Hey, como foi a viagem?''
''Uma merda, mas boa! Preciso dormir! Eu tenho o endereco dum hostel que me disseram que é bom...''
''Nao, nao, eu já fiz reserva pra vc no que eu estou. Trust me, it's wicked but you'll like it!!''
E assim comecou a história do 'trust me, you'll like it', ele sempre dono do saber, eu sempre confiando e, nao contem isso pra ele, mas no fim, sempre gostando.

Loki. Nao muito longe da rodoviária. Entrei no táxi e desci do táxi, subi dois lances de escada e... ugh... cansada. Sentei no lobby enquanto Adam, o porta-voz, perguntava de minha reserva. Mais dois lances pra subir... Jesuscristo, meus pulmoes!!! Quarto com quatorze camas, ok, a minha: beliche, o meu: o de cima. ''Posso deitar e dormir agora?'' pergunto inocentemente ao 'camareiro'... ''er, nao, tem que esperar até as 13hs, que é a hora do check-in'' ''FUCK''.
Ok, posso ir dar uma volta e/ou conversar um pouco com o Adam. Olha pro lado, o belezinha roncando, dormindo como se nao houvesse amanha. ''É, comecei bem''.


De cima do meu beliche.


Bem turista, com mapinha na mao, rolei sozinha ladeira a baixo em busca de algo interessante pra fazer, 9hs da manha, com um sono desmaiante e um cansaco fora do comum. Uma dor-de-cabeca incomoda e essa porcaria de cansaco nao me deixavam em paz, quando OOOOH, lembrei que estava a 3.600 metros acima do mar, o cansaco e a dor de cabeca foram previstas, lembrei dos tais dos Sorochi Pills que me indicaram e disseram que era bom comprar uns 2 ou 3. Na dúvida comprei 12 (sobrou, claro) tomei e OOOOOH, milagre, tudo ficou bem pelos próximos dois dias. Aí sim La Paz comecou, de novo, a ficar bonita!!!

Andei e andei, entrei em livrarias, museus, até na casa do governo - ignorando os homens com as enormes escopetas enferrujadas - e, qual minha surpresa: meio dia. Almoco!!! Uau, que fome. Come, volta pro hostel (direitinho!!! mapa fofo) e aí sim ''posso deitar agora?'' ''sim, agora pode''. Acordei cinco da tarde, com o Adam me cutucando:

''Acorda, vamos, temos que ir pesquisar precos do tour da 'Estrada da Morte', meu amigo Julien...''
''Peraí, que amigo?? Voce nao me falou de outro amigo''
''Ah, é que o conheci ontem aqui no bar do hostel''
* uma informacao valiosa: Adam conversa uma vez com uma pessoa e já chama de melhor amigo *
''Ok, que tem teu amigo?''
''Ele tem que ir embora logo, por isso pensamos em fazer o tour amanha, entao temos que ir logo pq as agencias fecham as seis''
'' ... ''
* cara de 'e pq nao foram antes? se eh so pesquisa pq eu tenho que ir junto?' *
''Ahm... vc queria dormir mais? Se quiser, pode ficar aí, eu te aviso depois...''
''Sim, bonito, queria dormir mais, mas agora vc já me acordou. Vamos.''

Por sorte, Julien era um cara muito legal. Da Bélgica, falava ingles com sotaque frances e se tocava que pra mim nao era agradável quando os dois comecavam a falar frances - Adam, o poliglota nao.

Ok, estou sendo extremamente negativa com relacao ao Adam, pode-se pensar que ele é um tremendo mala, mas... Essa foi a minha primeira impressao! Por essa razao quase me arrependi de ter ido com ele e previ uma 'separacao' no meio do caminho, porém ao longo do tempo nao só me acostumei com suas, digamos, inglezisses, como passei a adora-lo como pessoa. Mas vamos com calma, já que isso leva um tempo!

Depois de reprovarmos quatro agencias, a quinta - que no caso foi a primeira em que entramos - foi a vencedora. El Solario tinha uma vendedora simpática e um preco razoável. Fechamos o pacote e nos comprometemos a irmos, no dia seguinte, descer de bicicleta 1.600 metros, pela estrada carinhosamente intitulada ''A estrada da morte - A estrada mais perigosa do mundo''.

Fomos jantar num restaurante fast-food a moda boliviana (peruana também, descobri depois), que serve frango frito de todas as formas. Ok, quantas formas pode ter um frango frito? Uma nova, ''a melhor invencao de todos os tempos'', como diria Adam, o hiperbólico: o copo do refrigerante era o suporte pro pote de frango. Creio que nao me expressei bem e nao tenho foto pra demonstrar, mas resumindo nao era tao grande coisa assim a apresentacao, o gosto é que era o melhor.

E foi assim o primeiro dia!
Voltamos ao hostel, eles foram ao bar que lá dentro há e eu fui dormir pensando:

''Mesmo que o resto da viagem feda, valeu a pena só por ver a tal da La Paz!! Ow cidade bonita!!!!''

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