Meus.

Meus.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Copacabana mágica II

Muito engraçado que eu não tinha parado pra pensar que os itinerários de pessoas que vão pra determinado canto são parecidos mesmo. Pros experientes as recorrências de encontro não são novidade nenhuma, mas a minha inocência de principiante fez com que eu enxergasse aquilo com olhos de deslumbre. Foi lindo.

Mas é engraçado como não é todo mundo que tem a vontade (ou a facilidade) de aumentar o grupo. Nos separamos e fomos, em momentos diferentes, conhecer a cidade. Eu e Adam subimos o Calvario, e que calvário aquilo realmente foi, oh céus! Lá em cima uma vista de enriquecer a vista, Copacabana e seu pequeno porto Titicaca a dentro.

Muito frio, vento, nariz escorrendo e boca queimada. No fim da noite encontramos os meninos pra comer uma truta! Estava louca por peixe, mas mais louca ainda por uns momentos de amizade com esses 3 meninos de nacionalidades diferentes - uruguaio, inglês e italiano - e foi o que eu mais adorei, vê-los conversando, escutar suas histórias, discernir seus sotaques, aprender suas razões...

Ah, que saudade e vontade me dá de sair voando por aí de novo...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Copacabana mágica - I

Nos informamos na noite anterior como melhor seria para chegar a Copacabana e a melhor resposta foi: pegar um onibus que sai de hora em hora em frente ao cemitério geral de La Paz. Fomos nove horas e facilmente encontramos o lugar, compramos a passagem por 30 bolivianos e, dez e quinze, partimos. Viagem tranquila pela primeira vez, curtinha também, só duas horas e meia incluindo uma travessia de barco pelo Titicaca.

Ah, o Titicaca!!!!

Desembarcamos em Copacabana em meio a um desfile - era o dia do estudante, alunos de todas as idades estavam em passeata pelas ruas vestidos com roupas recicladas e fazendo uma tremenda sujeira. Alguns minutinhos observando para depois sair a busca de hotel, hostel, hospedagem, qualquer coisa pra largar a mochila que, naquela altitude, parecia mais pesada que eu... Encontramos uma, carinha meio suspeita, bizarramente vazia em uma cidade tradicionalmente 'ponto de turista', mas entramos e perguntamos o preço mesmo assim: ''dez bolivianos''. Preço perfeito, acomodações horríveis!!!! Porém, por acreditar que nao acharíamos nada melhor por valor semelhante largamos ali nossas coisas e fomos caminhar. Estávamos na rua principal, descemos até a prainha as beiras do Titicaca.

Ah, o Titicaca!!!!

Lembro das aulas de geografia, o professor Pedro do cursinho falando sobre ele. Que é o lago mais alto do mundo, que Titicaca significa tigre e que realmente ele tem o formato de um tigre, mantendo-se o mistério de como os incas souberam disso e assim o nominaram - em seu idioma. Sempre tive uma certa curiosidade, mas nada que me fizesse parar por muito tempo para pensar na magnitude e beleza desse lago...
Mas ao chegar lá, ao descer a prainha, ficar parada em sua beira, até olhar aquela imensidão de água doce que balança como água salgada e que se perde no horizonte como o mar, e que é frutífero e misterioso como qualquer oceano, mas ainda assim está localizado muito acima de qualquer um deles, percebi que havia reconhecido um novo tipo de beleza: aquela indescritível.


Pescador


Depois de quarenta minutos de puro deslumbramento voltamos a subir a rua principal em busca de lugar para comer. Papo vai, papo vem, comentei:

''Eu estava pensando na sorte que tivemos até agora. Sou nova nessa coisa de mochileira então não sei muito bem o que esperar, mas o que estou me perguntando é: será que vamos conhecer gente legal como conhecemos em Rurrenabaque?''
''Ah, Math, isso não posso te dizer, mesmo sendo 'mais experiente' em viagens do que você. Essas coisas acontecem quando menos esperamos, é pura sorte...''
* Silêncio, continuamos por dois passos quando... *
''Não! Não acredito!!! Adam, olha quem está vindo ali!!!!!''

E era Diego! E logo atrás Dário!
Saindo de um café, recém-hospedados em um hotel na praça, contrariando o itinerário que haviam programado e que tornaria impossível um futuro 'reencontro', ali estavam eles! De repente estávamos ali juntos outra vez, com o mesmo papo fácil e gostoso como o de cinco dias atrás! O que aconteceu foi que eles resolveram ficar apenas dois dias em Tiahuanaco ao invés dos sete planejados e foram antes para Copacabana, a Copacabana - agora para mim - mágica!!!!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vida de mochila - II

Fomos à rodoviária 21:30hs como indicado na passagem, depois da segunda janta comunitária nos sentamos e esperamos.
Primeiro em silêncio, depois conversando sobre coisas geeks - impressionante como sou geek e como atraio gente geek pra perto de mim - como vídeo-games e seriados. Esgotado o assunto, inacreditávelmente pois esse Adam fala que pelamordedeus, deu um soninho. Olha no relógio: 24hs... ''Caramba, onde está esse ônibus''.

Uma hora da manha, nada de nosso transporte, um bebado aproximou-se... Fedido, coitado, com uma nojenta bola de coca mascada no canto da boca... Sentou-se ali, do nosso lado, e comecou a conversar com Adam, o bom samaritano que prestou atencao - eu fingi estar dormindo. Finalmente, as duas e quinze da manha, com um leve atraso de 4 horas e 45 minutos, chegou nosso ônibus!!!! Linda sensacao, merda de ônibus... Na verdade, sendo bem justa, o pior ônibus que já viajei em minha vida!!!! Apertado, sujo e com vários passageiros inusitados: em torno de 7.500 criancas de todos os tamanhos e o mesmo comportamento: irritante! Um homem com dois gatinhos dentro dum saco! Uma mulher com uma caixa de pintinhos no colo! Tava só vendo a hora em que essas duas espécies fariam um pequeno estrago, por exemplo um dos gatinhos sair do saco e comecar uma busca incessante por um dos pintinhos... Mas nao aconteceu - ahhh - o que aconteceu foi o incessante bater de pés no meu banco de uma das quatro criancas que estavam sentadas em um só acento atrás de mim.

Tudo bem, sobrevivemos uma vez mais para chegar, uma vez mais, em La Paz as sete da noite do sábado. Nao queríamos voltar ao Loki, fomos em busca de outro hotel. Caminhando sem folego por aquelas ladeiras, ai que inferno... Somente 40 minutos depois de sobe e desce e entra e sai e procura, achamos um super razoável, limpinho, bonitinho e com uns 4 lances de escada pra subir! Perfeito.

Domingo frio. Que fazer?
Vale de la Luna!
O nome nao é a toa, é um vale com a superfície mais louca que já vi na vida, parecido com o da lua (ou com o que penso que se parece a lua). Lindo demais.

O tal do Vale.

Segunda-feira também em La Paz, nao podia deixar de conhecer o Mercado de las Brujas, freak-show, fetos de lhama aqui e ali, as tais das 'brujas' sentadas oferecendo desde leitura de cartas até feitico-recupera-homem, passando claro pelo espanta-mau-olhado. Comprei uns cacarequinhos para dar de recordacao e fui enganada bem ao estilo boliviano... Pedi e paguei por cinco, me deram somente quatro dos cacarequinhos.

Voltando ao hotel, distraídos falando sobre qualquer bobagem, decidimos o próximo destino: Copacabana, e a data de partida: amanha cedinho!

Nos despedimos de nossa cidade fazendo uma coisa que se tornou ritual: jantando num lugar 'chique'. Comemos bem, tomamos café, um belo 'até logo' a La Paz.


Vista da janela do hotel.

Adendo.

Um fato engraçado que aconteceu durante a primeira 'janta comunitária': estávamos preparando o fogo para o churrasco no fundo do quintal, longe da área comum onde haviam as redes e as mesas, onde colocamos os ingredientes. O argentino tocava violao, a argentina olhava o fogo, o uruguaio servia vinho, todos cantávamos, quando Adam chegou com sua cara de morto-vivo, mais pálido que fantasma. Malmente podia ficar em pé, por isso fui buscar-lhe uma cadeira. Chegando lá na área comum, onde as comidas - inclusive carnes - estavam. Como somos ingênuos (para nao dizer burros), nem sequer nos atentamos ao fato de que haviam 3 gatos e 3 cachorros famintos vivendo ali!!! Uma das cadelas estava saboreando a sacolinha de carne, tranquila em sua cama e dois dos gatos estava saboreando a carne moída em cima da mesa!!!!!

''Socoooooorro!! Ajudaaaaaaa!!!!!!!!! Desastreeeee!!!!!!!'' meu pequeno alarde...
''Que foi??? Que foi??? AH NAO, HIJO DE PUTA, LARGA LARGA'' Martin, o argentino.
''Bruschenápolli'' (nao sei nenhuma palavra em italiano, essa eu inventei) Dario, o italiano.

Conseguimos salvar metade de cada coisa, ameaçamos os bichos com pedaços de pau e certificamo-nos de que ficariam longe pelo resto da noite!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Era uma vez a Amazônia... III

Quinta-feira, 16 de setembro de 2010.
Dois dias depoi
s do planejado, 8am.

''Tá se sentindo
bem, garoto?''
''Sim''
''Tem certeza?''
''Nao.''

''Ok, vamos.''

Café-da-manha delicioso, Adam aproveitou, comeu o primeiro, pediu mais um... Meus amigos saíram de seus quartos, por um instante, quis desistir de ir pro meio do mato cheio de mosquito, quis ficar ali conversando com eles como no dia anterior, mas nao dava. 9am chegou nosso barco!

Ah, sim, a pou
sada fica na frente dum rio que agora eu nao lembro o nome, mas é o mesmo que leva até a entrada do parque. 3 horas no barquinho, paisagem inacreditável: montanhas enormes, acidentadas devido aa chuva, com buracos em sua superfície e dentro desses buracos araras! Centenas de araras vermelhiiiinhas, por horas saíam em revoada! As condicoes mudavam tao rápido... de tranquila água marrom a violenta correnteza azul clarinha em questao de minutos, chega um ponto cheio de pedras, o barco encalha, todos descem pra um banco de areia, tem que atravessar a pé. Me fiz de tonta e fiquei ali:

''Posso ficar dentro do barco enquanto os senh
ores o retiram daqui?'' olhinhos de filhote
''Claro, señorita, fi
que!'' hihihi

Vinte minutos de
pois voltam todos, com os pés machucados - foram descalcos e o chao estava cheio de pedras pontudas - e me olhando com cara de 'que diabos, menina...'.

Ao cabo das 3 horas chegamos.

Desce do barco, caminhada até o acampamento - 1 hora e meia - chega.
Um lugarzinho particular... Árvores gigantescas cercando o acampament
o. Algumas cabanas dormitório, uma cabana banheiro e uma cabana cozinha. Almoco servido, delicioso! ''Agora é uma hora da tarde, vamos sair as duas pra primeira caminhada''.

Cabana cozinha.


Eu, Adam e dois belgas.
Eu, a sul-americana que deveria estar acostumada a fazer esse tipo de coisa, fui a única a nao levar calca comprida, e é de conhecimento-geral a idéia de que se deve cobrir o máximo possível nesse tipo de excurcao devido aos mosquitos, formigas e aranhas! Mas simplesmente nao me atentei ao fato, usava uma que cobria somente metade de minha perna. Compadecido de meu sofrimento, o belga ofereceu-me um par de meias compridas. De la. Funcionou direitinho para as picadas, mas funcionou também para deixar-me suando feito uma porca. Tres horas caminhando, uns 30 e poucos graus e eu com meias de la... Uh delícia - sem falar no charme! Ah, eu estava sexy com meu modelito.

Creio que fomos o grupo mais sortudo de todos os tempos desse tao desafortunado tour, pois supostamente nao deveríamos ver nenhum animal, porém contrariando as estatísticas vimos vários! Sentimos os primeiros, na realidade: uma manada de porcos selvagens. Seu fedor para espantar predadores resplandia por quilometros... meu asco foi tanto que soltei uma interjeicao: ''ééééca''.

''Desculpem!!! Eu juro que nao foi tao alto!!!'' eu tentando me explicar. Minha 'nao-tao-alta' demonstracao de nojo foi o suficiente pra alertar os bichinhos e tornar impossível uma observacao mais de perto. Strike 1.

Depois disso o guia comecou a 'me cuidar de perto'. Quando via algum pássaro interessante, um inseto grande ou macacos - sim, vimos um grupo enorme de macacos TOOOOMA TOUR MAIS CARO - ele olhava diretamente pra mim e fazia shhh. Consegui me comportar direitinho, pelo menos até chegarmos a um rio cheio de piranhas onde iríamos pescar!!!!

Uhuuuu, pescar!!! Wee, pescar... Pescar, eba. Aff, pescar, que tédio!!!

Uma de minhas qualidades bem de 'menininha' é a de nao saber pescar. Dez minutos lutando contra o anzol foram o suficiente pra fazer com que eu me satisfizesse com a posicao de observadora. Observei tranquilamente quando eles conseguiram pescar tres! Pobres bichinhas, pulando desesperadamente.

''Ok guys, lindo, adorei, agora vamos, coloquem-nas de volta na água!''
''Colocar na água? Tá maluca??''
''Mas ela vai morrer!!!''
''E voce come peixe vivo???'' Adam, o macho-alfa que sente prazer em matar o próprio jantar
''A gente vai comer elas??? Tadiiinhas!!!''
* ok, uma pausa pra explicacao: eu nao sou tao mala assim, estou usando de minha licenca poética pra exagerar alguns fatos. Acreditem se quiser. *
Porém, com exagero ou nao, dez minutos depois uma delas estava viva ainda, uma guerreira, uma batalhadora ''c'mon guys, ela merece vá...''. No fim das contas tivemos duas piranhas pra janta!!!
Strike 2
.

Voltamos ao acampamento, banho, janta com duas piranhas - que no fim das contas eram deliciosas, mama mia, se eu soubesse tinha matado eu mesma a terceira!!! Os outros (tinham mais 6 pessoas no grupo, mas eles estavam fazendo o tour bambambam, entao nao se misturavam muito conosco) acenderam uma fogueira, sentamos ali por umas duas horas até o guia nos chamar pra caminhada noturna.

Caminhada noturna. Isso quer dizer caminhar a noite. No meio do mato e, adivinha só, nao levei lanterna, o ingles muito menos! Pavooooor, mas vamos né. Vi gnomos, duendes e fadinhas durante a caminhada. Quase arrancava o braco do Adam ou de quem estivesse por perto quando ouvia um barulho, por menor que fosse, mas o ápice de minhas 'meninices' aconteceu quando o guia parou abruptamente em frente a um buraco no chao, buscou um pedaco de pau e comecou a cutucar! Nao tinha nem idéia do que iria sair dali, podia ser um tatu ou um elefante, pra mim dava na mesma naquele momento. Podia ser tudo, menos o que comecou a aparecer...

Uma tarantula!
Sim, AHHHHH! Vi duas de suas pernas horrivelmente pretas e peludas saindo e, adivinha? Pulei e gritei 'AHHHH'.
Definitivamente STRIKE 3!!!!
A bicha voltou correndo pra dentro e nao houve cristo que a tirasse novamente. E nao houve cristo que fizesse os meninos entenderem que foi uma reacao instintiva, que nao foi de propósito, que uma tarantula nao é tao grande coisa assim... Mas a raivinha deles logo passou e voltamos a ser lindos amigos, voltamos ao acampamento e eu fui direto pra cama. Credo, mas que noite horrível!!!! No comeco um calor infernal, no meio um frio de tremer e ao amanhecer eu nao sabia se estava suada de calor ou de febre. Sem dizer os malditos insetos que tem certamente uma passagem secreta através do mosquiteiro e as lagartas venenosas que fizeram desfile em cima da minha cabeca.

Manha seguinte exatamente o mesmo: café-da-manha delicioso, caminha e caminha, volta pro acampamento, almoca e fim. Quando dei conta o barquinho já tava ali, 3 horas de novo, dessa vez dormindo com os pés na água, sensacao deliciosa!!!

Chegamos a pousada, saudei meus amigos: o italiano e o uruguaio nos estavam esperando!
A noite mais um jantar coletivo, mais uma noite memorável com comida deliciosa, porém dessa vez mais curta, pois voltaríamos a La Paz naquela mesma noite de sexta-feira.

Só depois de entrar no ô nibus que me dei conta: nao havia pegado nem os nomes inteiros de nenhum deles, nem um email, nada!!!! Meus olhos encheram-se de água.

''É, acho que nunca mais os verei...''
''É uma pena realmente. Você passou mais tempo com eles, mas já consegui ver que eram boa gente. Sinto muito.''

Nos calamos por duas horas, até o ô nibus chegar, fomos embora em silê ncio, uma vez mais pela estrada da morte, mas agora nao tive medo, pois nao só cheguei viva ao final dessa estrada tres vezes como ganhei e ganhei muito.

Obrigada estrada da morte!

Era uma vez a Amazônia... II

Durante as longas horas de viagem fizemos algumas paradas na estrada para comer e para xixi, e lhes digo: que aventura é fazer xixi na estrada a caminho do fim do mundo! Paga-se a pexinxa de 1 boliviano (uns 25 centavos de real) e ainda é caro - poupo-lhes de descricao, deixo livre a imaginacao do leitor.

Nao sentia fome mesmo sem comer por mais de 12 horas, creio que pelo nervosismo e o calor extremo, mas Adam, o magro de ruim sim. Frango deveria ser o prato típico da Bolívia, porque em todos os lugares, a todos os momentos e de todos os jeitos se pode encontrar e comer se voce for masoquista o suficiente. Inclusive na beira da estrada rumo ao fim do mundo! Haja coragem para comer aquele frango que estava ali há, sabe-se deus, quanto tempo... Porém para meu espanto, meu companheiro de viagem teve e ambos pagamos o preco!

Era meio da madrugada, nao sei que hora ao certo, pois por sorte agora eu já conseguia dormir - ressonar ao menos - sem preocupar-me com o, ainda presente, precipício. O onibus parou, mandaram-nos descer e buscar nossa bagagem, descemos meio confusos, pensando que seria uma parada rápida, já que esse lugar parecia igual a todas as outras paradas de antes, nos acomodamos no banco e ali ficamos por mais ou menos 40 minutos até eu ter a simples idéia de perguntar onde estávamos: ''en Rurrenabaque'', respondeu-me tranquilamente uma senhora que já estava indo embora.

''Adam, acorda, já chegamos!''
''Que? Nao, acho que nao, relaxa o onibus já vai sair'' vira pro lado.
''Nao, criatura, já chegamos!! Eu perguntei pra uma mulher!!!''
''Tá brincando??? Vamos embora entao!!!''
* genio *

Moto-táxi. O meio de transporte mais comum nessa cidadezinha do tamanho de um ovo.
Eu com minha mochila desengoncada de 10kg + Adam com a sua e seu violao + uma moto e seu motorista = impossível tudo ao mesmo tempo. Foi-se ele fiquei eu, sozinha, no meio da noite, rodeada por uns homens esquisitos mascadores de coca, no escuro. Uns dez minutos depois volta a moto pra me buscar, levou-me a pousada em que já tinhamos um gracioso quartinho com banheiro que Adam já havia estreado. O felicitei por sua brilhante idéia de provar o diabo do frango de beira-de-estrada!!!!

Os tours partindo daquela cidade pra ir ao parque nacional Madidi eram divididos em duas categorias: um com duracao de tres dias e duas noites, ia mais 'fundo' dentro da selva, prometiam animais e um grande conhecimento das espécies de plantas e blablablá. O outro, dois dias e uma noite, nao ia tao longe, nao prometiam animais - se tivessemos sorte quem sabe - e de nome de planta conheceríamos só a alface do almoco. A diferenca gritante das duas categorias se dava, claro, pelo preco. O primeiro custa o triplo do segundo!

''O segundo, senhora, vamos com o segundo!'' eu, para a dona da pousada e também ¿agente de viagens?
''Mas veja bem, o primeiro tem muitas vantagens, por exemplo voces podem ver uma anaconda...''
''Ela está em cativeiro?''
''Nao, está em seu habitat natural''
''Entao se ela nao estiver a fim de sair da toca eu nao vou ve-la, certo, eu só posso ver uma anaconda, mas também há a chance de nao ver...''
''É, sim, há a possibilidade de nao se ver...''
''Bom, no segundo também há a possibilidade de ver, entao como é um terco do preco eu prefiro correr o risco de nao ver. O segundo!''
''Mas veja bem...'' e essa conversa durou mais uns 15 minutos. Ela tentando empurrar o tour mais longo, eu decidida a fazer o mais curto, mas finalmente a convenci de que nao seria convencida.

Dois minutos depois de fechar o negócio pensei: ''uhm, vou escutar uma musiquinha tranquila''. Fui ao quarto e procurei meu IPod. Procurei e procurei. FUCK. Perdi ='(
Corri pra rodoviária, nao me deixaram entrar no onibus que ainda estava lá pra procurar, e disseram que nao, nao estava lá. Com um ódio mortal tive que dar-me por vencida e dar adeus as minhas musicas queridas!

Adam continuava mal. Indo do banheiro para a cama da cama para o banheiro o dia inteiro e o tour seria no dia seguinte... Torci para que melhorasse sozinho, já que nenhum remédio queria. Passei o dia caminhando sozinha pela cidade, voltei e continuei lendo ''A Volta ao Mundo em 80 Dias'' deitada numa das redes, e por momentos observando as criancas brincando com os animais: o Pancho, uma ovelha marrom, perseguia uma menina que saia correndo com uma galinha em baixo do braco. Pulava, se desviava, subia, descia...


A galinha mais feia do mundo.


Na manha seguinte acordei 7:30hs como planejado, cutuquei o doentinho que disse que levantaria em meia hora, saí e fui tomar café. Deveríamos estar prontos as 9hs.

Assim que sentei a dona da pensao veio com um chá para dar pro Adam e uma notícia: o tour havia sido cancelado naquele dia, tanto por ele quanto pelo outro rapaz que iria conosco que estava mal também pela mesma razao, os tais dos pollos de beira de estrada. Dei o chá e a notícia, ele comemorou, virou pro lado e dormiu. Eu só pensei: ''mais um dia de peregrinacao solitária''.

Por sorte enganei-me, nao sabia a sorte que me esperava.
Eliana e Martín, ela de Buenos Aires ele de Córdoba, Diego uruguaio e Dario italiano. Os quatro tomavam café silenciosamente - com razao, pois o desayuno oferecido ali... hum que maravilha: panquecas fresquinhas com doce-de-leite, omelete e frutas recém-colhidas - mas logo comecamos a conversar e conversar e conversar e logo sabíamos tudo da vida um do outro e planejávamos uma janta comunitária para aquela noite e zás... Assim comecou a coisa mais mágica dessa viagem: a amizade com essa gente!

Lá pelas 18hs fomos ao mercado. Os argentinos encarregados da carne e do fogo do churrasco, o italiano das almondegas e bruschettas, o uruguaio escolheria as bebidas e eu saladas, lavar pratos, colocar a mesa, tirar a mesa... Voltamos e comecamos a fazer as coisas. Adam, o mais pálido que fantasma nao entendeu nada quando nos viu carregando lenha, pratos, alfaces e paes lá pro fundo da pousada. O expliquei, mas o pobre nao pode participar da 'festinha', pois ainda sentia-se muito fraco e amanha 'si o si' aconteceria nosso tour, portanto o melhor é mesmo que descanse!!

Foi uma noite memorável!
Uma das muitas que ainda estavam por vir com essas pessoas.


Diego, a cadelinha que nos seguia em todo lado, Dário.
Foto tirada sem que eles vissem. Nao gostam de ser fotografados.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Era uma vez a Amazônia... I

Como nao canso de dizer, La Paz é uma delícia de cidade, mas nao é só de La Paz que se faz uma viagem.

Depois da aventura extrema, um dia de completa 'morgaçao' era necessário. Como estávamos no hostel mais 'badalado' da cidade, achar coisa que fazer ali dentro mesmo nao era difícil, como por exemplo receber Daniela, a brasileira da minha cidade que estava no tour, e seus dois amigos para tomar umas cervejas no bar - sem sequer precisar tirar o pijama!

Mas a letargia nao durou por muito tempo, fomos dormir cedo, pois nosso próximo destino já estava decidido. Sairíamos na segunda cedinho para Rurrenabaque, o ''portal da Amazônia'' boliviana! Adam, o europeu acostumado com outro tipo de cenário, nunca sequer imaginou como é a tal da rainforest, estava mais animado do que criança! O pensamento de estar cercado por árvores, de ver macacos, de pescar o deixava inquieto. Essa sua alegria em ir foi o único motivo de eu nao tê-lo matado quando, para meu terror, reconheci o caminho por onde estávamos indo...

''Nao, nao pode ser. Relaxa que nao iríamos pela estrada da morte com um ônibus de dois andares.'' disse ele, enquanto chegávamos mais e mais perto daquele trecho que havia temerosamente descido, duas manhas antes.
''Está mais perto, Adam, a gente vai sim pela estrada da morte!!!'' e fomos!!!

Se antes eu controlava a bicicleta, ia mais devagar e beeem rente ao lado sem precipício pra nao ter um ataque do coraçao, agora estava fora do meu alcance! Meu nervosismo foi extremo, nao podia olhar pro lado que me dava vontade de chorar! Nao sabia por quanto tempo ficaríamos naquela estrada, sabia que a viagem duraria 17 horas e a simples idéia de que seriam 17 horas naquela estrada me fazia tremer dos pés à cabeça! Pra nao esgotar meu corpo por estresse demasiado, comecei a ler. ''A volta ao mundo em 80 dias'' era o que tinha ao alcance e foi perfeito! Mergulhei no mundo do Julio Verne, Phileas Fogg e Passepartout e a viagem foi rápida, esqueci de tudo...

... tudo mesmo, inclusive meu IPod!!!
='(