Meus.

Meus.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Era uma vez a Amazônia... II

Durante as longas horas de viagem fizemos algumas paradas na estrada para comer e para xixi, e lhes digo: que aventura é fazer xixi na estrada a caminho do fim do mundo! Paga-se a pexinxa de 1 boliviano (uns 25 centavos de real) e ainda é caro - poupo-lhes de descricao, deixo livre a imaginacao do leitor.

Nao sentia fome mesmo sem comer por mais de 12 horas, creio que pelo nervosismo e o calor extremo, mas Adam, o magro de ruim sim. Frango deveria ser o prato típico da Bolívia, porque em todos os lugares, a todos os momentos e de todos os jeitos se pode encontrar e comer se voce for masoquista o suficiente. Inclusive na beira da estrada rumo ao fim do mundo! Haja coragem para comer aquele frango que estava ali há, sabe-se deus, quanto tempo... Porém para meu espanto, meu companheiro de viagem teve e ambos pagamos o preco!

Era meio da madrugada, nao sei que hora ao certo, pois por sorte agora eu já conseguia dormir - ressonar ao menos - sem preocupar-me com o, ainda presente, precipício. O onibus parou, mandaram-nos descer e buscar nossa bagagem, descemos meio confusos, pensando que seria uma parada rápida, já que esse lugar parecia igual a todas as outras paradas de antes, nos acomodamos no banco e ali ficamos por mais ou menos 40 minutos até eu ter a simples idéia de perguntar onde estávamos: ''en Rurrenabaque'', respondeu-me tranquilamente uma senhora que já estava indo embora.

''Adam, acorda, já chegamos!''
''Que? Nao, acho que nao, relaxa o onibus já vai sair'' vira pro lado.
''Nao, criatura, já chegamos!! Eu perguntei pra uma mulher!!!''
''Tá brincando??? Vamos embora entao!!!''
* genio *

Moto-táxi. O meio de transporte mais comum nessa cidadezinha do tamanho de um ovo.
Eu com minha mochila desengoncada de 10kg + Adam com a sua e seu violao + uma moto e seu motorista = impossível tudo ao mesmo tempo. Foi-se ele fiquei eu, sozinha, no meio da noite, rodeada por uns homens esquisitos mascadores de coca, no escuro. Uns dez minutos depois volta a moto pra me buscar, levou-me a pousada em que já tinhamos um gracioso quartinho com banheiro que Adam já havia estreado. O felicitei por sua brilhante idéia de provar o diabo do frango de beira-de-estrada!!!!

Os tours partindo daquela cidade pra ir ao parque nacional Madidi eram divididos em duas categorias: um com duracao de tres dias e duas noites, ia mais 'fundo' dentro da selva, prometiam animais e um grande conhecimento das espécies de plantas e blablablá. O outro, dois dias e uma noite, nao ia tao longe, nao prometiam animais - se tivessemos sorte quem sabe - e de nome de planta conheceríamos só a alface do almoco. A diferenca gritante das duas categorias se dava, claro, pelo preco. O primeiro custa o triplo do segundo!

''O segundo, senhora, vamos com o segundo!'' eu, para a dona da pousada e também ¿agente de viagens?
''Mas veja bem, o primeiro tem muitas vantagens, por exemplo voces podem ver uma anaconda...''
''Ela está em cativeiro?''
''Nao, está em seu habitat natural''
''Entao se ela nao estiver a fim de sair da toca eu nao vou ve-la, certo, eu só posso ver uma anaconda, mas também há a chance de nao ver...''
''É, sim, há a possibilidade de nao se ver...''
''Bom, no segundo também há a possibilidade de ver, entao como é um terco do preco eu prefiro correr o risco de nao ver. O segundo!''
''Mas veja bem...'' e essa conversa durou mais uns 15 minutos. Ela tentando empurrar o tour mais longo, eu decidida a fazer o mais curto, mas finalmente a convenci de que nao seria convencida.

Dois minutos depois de fechar o negócio pensei: ''uhm, vou escutar uma musiquinha tranquila''. Fui ao quarto e procurei meu IPod. Procurei e procurei. FUCK. Perdi ='(
Corri pra rodoviária, nao me deixaram entrar no onibus que ainda estava lá pra procurar, e disseram que nao, nao estava lá. Com um ódio mortal tive que dar-me por vencida e dar adeus as minhas musicas queridas!

Adam continuava mal. Indo do banheiro para a cama da cama para o banheiro o dia inteiro e o tour seria no dia seguinte... Torci para que melhorasse sozinho, já que nenhum remédio queria. Passei o dia caminhando sozinha pela cidade, voltei e continuei lendo ''A Volta ao Mundo em 80 Dias'' deitada numa das redes, e por momentos observando as criancas brincando com os animais: o Pancho, uma ovelha marrom, perseguia uma menina que saia correndo com uma galinha em baixo do braco. Pulava, se desviava, subia, descia...


A galinha mais feia do mundo.


Na manha seguinte acordei 7:30hs como planejado, cutuquei o doentinho que disse que levantaria em meia hora, saí e fui tomar café. Deveríamos estar prontos as 9hs.

Assim que sentei a dona da pensao veio com um chá para dar pro Adam e uma notícia: o tour havia sido cancelado naquele dia, tanto por ele quanto pelo outro rapaz que iria conosco que estava mal também pela mesma razao, os tais dos pollos de beira de estrada. Dei o chá e a notícia, ele comemorou, virou pro lado e dormiu. Eu só pensei: ''mais um dia de peregrinacao solitária''.

Por sorte enganei-me, nao sabia a sorte que me esperava.
Eliana e Martín, ela de Buenos Aires ele de Córdoba, Diego uruguaio e Dario italiano. Os quatro tomavam café silenciosamente - com razao, pois o desayuno oferecido ali... hum que maravilha: panquecas fresquinhas com doce-de-leite, omelete e frutas recém-colhidas - mas logo comecamos a conversar e conversar e conversar e logo sabíamos tudo da vida um do outro e planejávamos uma janta comunitária para aquela noite e zás... Assim comecou a coisa mais mágica dessa viagem: a amizade com essa gente!

Lá pelas 18hs fomos ao mercado. Os argentinos encarregados da carne e do fogo do churrasco, o italiano das almondegas e bruschettas, o uruguaio escolheria as bebidas e eu saladas, lavar pratos, colocar a mesa, tirar a mesa... Voltamos e comecamos a fazer as coisas. Adam, o mais pálido que fantasma nao entendeu nada quando nos viu carregando lenha, pratos, alfaces e paes lá pro fundo da pousada. O expliquei, mas o pobre nao pode participar da 'festinha', pois ainda sentia-se muito fraco e amanha 'si o si' aconteceria nosso tour, portanto o melhor é mesmo que descanse!!

Foi uma noite memorável!
Uma das muitas que ainda estavam por vir com essas pessoas.


Diego, a cadelinha que nos seguia em todo lado, Dário.
Foto tirada sem que eles vissem. Nao gostam de ser fotografados.

Nenhum comentário: